30 de out. de 2006

Êxtase II



Cedo de manhã saí a navegar pela baía de Parati, sozinho num bote inflável com motor de popa de 15 HP, pouco porém suficiente para “voar” bastante rápido. Passada a Ilha do Araújo, começo a ouvir alguns ruídos agudos que me põem em estado de atenção – afinal, os veículos que voam ou navegam demandam mais observação do que os que simplesmente rodam, e a liturgia de segurança tende a ser menos banalizada pelas conseqüências que os problemas podem gerar. Em tese, porque a realidade dos automóveis está aí, matando gente como mosca, não sei quantos Vietnams por ano, por razões que vão desde escola fraca que forma pessoas sem a mínima noção de inércia até a crise com vinte e cinco aninhos de idade, que joga nas estradas geringonças que há décadas deveriam estar descansando nos ferros-velho.

Apuro o ouvido para identificar aqueles ‘ganidos’ quando me dou conta de que havia acabado de penetrar bem no centro de um grande grupo de golfinhos que nadava com seus pulos cantados. Se dizem que se comunicam, talvez o assunto fosse a minha intrusão. Mas não pareceu me darem atenção.

Situação de pensar rápido (se conseguir), o que me sucedeu foi primeiro parar o motor pensando na ameaça da hélice aos animais. Tal ação substitui o barulho do motor por barulho de espuma da posição de ‘freada’ do barco – de proa/frente levantada para abaixada, uma onda gerada pela hélice do barco passando por baixo, se deslocando para a frente. A seguir, silêncio apenas quebrado pelos assovios dos golfinhos e já podia entender melhor o cenário em que me encontrava.

Alguns minutos de estupefação entre o encanto de me encontrar ali, sozinho, entre aqueles grandes, simpáticos e emocionantes seres, com vestígios de susto por estar bem no meio de tantos e tão grandes espécimes.

Logo me ultrapassaram mantendo o mesmo ritmo de seus passeios líricos.

Eu permaneci à deriva por um bom tempo, entendendo a emoção e a graça dos momentos que tinha vivido.

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